Bem... acontece que você subiu no telhado, bateu as botas, juntou os pés, foi comer grama pela raiz, descansou, fez a passagem, ou seja, você morreu. Mas o que julgava ser um merecido e tranquilo descanso vai se revelar o início de uma grande jornada de provações, dependendo de onde você morreu e no que acreditava. Bem vindo a dura vida dos mortos!
Hora do julgamento!

Mas se você acha isso aterrorizante, espere até ver como um Asteca alcançava o paraíso.
"Hora do desafio!"

Entre os Maias não era muito diferente. O nome da morada dos mortos para eles era Xibalba que era composto por sete casas e cada uma tinha um demônio sacana. E mesmo pra chegar até lá já tinha desafios a cumprir. O primeiro era atravessar um rio cheio de escorpiões, depois um cheio de sangue e o terceiro cheio de pús (ECA!). Depois você chegará a uma encruzilhada com quatro direções a seguir e em cada uma delas há um engraçadinho que vai fazer você se perder e voltar sempre pro mesmo lugar. Se você conseguir passar disso chegará a Xibalba. Lá os seis demônios te esperam, com uma porção de cópias deles e você deve descobrir quais são os verdadeiros. A cada erro eles vão zombar de você. Quando você descobrir, vão te pedir pra sentar ao lado deles, mas esses demônios são sacanas. O assento destinado a você é uma frigideira fervendo. Depois de te fazerem de palhaço vão mandar pro teste de verdade. Cada uma das seis casas tem um desafio. A primeira é absolutamente escura e você tem de atravessar as cegas sem ponto de luz pra te guiar. A segunda é um freezer absurdo onde até seus ossos podem congelar e se partir. Para dar uma esquentadinha, na terceira você vai ter que correr de uns jaguares famintos, na quarta de uns morcegos vampíros famintos, na quinta de lâminas que voam pra lá e pra cá e na sexta e última atravessar uma sala tão quente quanto o interior de um vulcão. Se passou tudo isso inteiro, parabéns o paraíso é seu.
"Morte melancólica"

Se você nascesse no Japão, você seria mandado para o Yomi. Independente de ter sido, bom ou mau, herói ou vilão, na mitologia shinto todos vão pro mesmo lugar e ficam lá, no escuro, deprimente e solitário leito de morte para sempre.
Esse também era o destino dos infelizes Nórdicos que não morressem com uma espada nas mãos. Se você fosse nórdico (também conhecidos como Vikings pela cultura popular) e morresse numa luta sangrenta, parabéns. Tão logo fechasse os olhos veria as lindas Valkírias, mulheres guerreiras aladas, que viriam buscar sua alma e levar para o Valhala, o palácio dos cadáveres de Odin, onde você, seus amigos e inimigos lutariam o dia inteiro e festejariam a noite inteira até o Ragnarok (Fim do mundo). Mas se você morreu de qualquer outra maneira, pobre infeliz, você vai mesmo é pro Niflheim. Lá governa a terrível Hel. Uma deusa que é metade mulher metade cadáver. O Nifleheim tem três níveis, um deles só habitado por heróis e deuses em festa. No outro, pelos bons que foram incapazes de morrer lutando (idosos, doentes, crianças e mulheres) e por fim o terceiro piso era para onde as pessoas ruins eram mandadas para serem torturadas... PELA ETERNIDADE!
"Purificando a alma"

Hindus, budistas, janaístas, etc. Acreditam que as almas impuras eram enviadas para o Niraya. O lugar de sofrimento terrível, mas que tinha um propósito, purificar a alma pecadora para que ela pudesse alcançar a salvação.
Para os Incas, os pecadores voltavam para o Uku Pacha, o lugar de onde todos vêm e esperavam para renascer e ter outra chance e continuariam nessa sina até poderem ascender ao Hanan Pacha, o paraíso onde viveriam próximos, mas não junto aos deuses. Para eles viver era uma oportunidade e irritar os deuses era um perigo, pois ser mandado de volta ao Uku Pacha significava sofrer a espera de poder nascer outra vez no Kay Pacha (nosso mundo).
Para Judeus, Cristão e Muçulmanos, após a morte a alma descansa Sim. Apesar de muitos religiosos de seitas cristãs (Católicos, Protestantes e Ortodoxos)afirmarem que as almas dos pecadores vão direto pro Inferno isso não é verdade segundo os próprios conceitos de sua religião. Assim que morre, o indivíduo dorme até o dia do Juízo Final, quando finalmente seus atos serão julgados por Deus e ai sim ele será condenado ou absolvido de suas faltas. Condenado, será lançado no Inferno, onde permanecerá até que sua alma seja purificada. O inferno para as três religiões abraâmicas portanto, não é um fim, mas sim um meio, assim como nas de tradição hindu. É um "mal necessário", o castigo final de Yaweh/Alah para que a lição seja enfim aprendida e o pecador possa afinal, alcançar seu lugar ao lado d'Ele.
Mas então porque o dogma do Inferno é tão presente no cristianismo em geral? Acontece que a nascente Igreja Cristã em Roma, de modo a convencer e converter melhor e mais rápido os pagãos à sua fé, teve de adaptar-se as crenças da época. O Inferno cristão tradicional é muito parecido com o Hades/Tártaro Grego. A adoração de imagens, um contra ponto em relação às outras tradições abraâmicas também é um reflexo dessa necessidade de conformação a um mundo diferente do que era encontrado na região em que Cristo teria vivido. Assim, com o passar dos anos e a amálgama de várias culturas, a religião cristã européia, cuja Igreja Católica é a herdeira direta, assumiria uma forma de culto cristão peculiar que mistura elementos pagãos e cristãos numa liga muitas vezes complexa de se entender. O protestantismo, numa tentativa de afirmar-se diferente, aproximou-se mais da tradição judaica. Mas não abandonou a ideia pagã do Inferno de sofrimento eterno para os pecadores.
"Descanse em paz"
Mas nem todos deveriam passar por algum teste ou sofrimento. Os Celtas acreditavam que após a morte, independente da sua conduta em vida todos mereciam o paraíso, pois todos eram imaturos e impuros diante dos deuses. Curiosamente, ainda assim eles não se matavam por qualquer besteira ou não cometiam atrocidades mil só porque não tinham o perigo de serem castigados no pós vida.
E mesmo para aqueles que não seguem nenhuma tradição religiosa, a morte é um mal necessário. Afinal, a vida só pode existir graças a morte de outros seres. Assim, a morte, essa dama tão temída, vive de mãos dadas com a vida. A vida te empurra ao nascer, mas é nos braços da morte que você vai parar. Hehehehe!
A conversa de boteco rendeu um ótimo post!!
ResponderExcluirAinda bem que eu nasci no Brasil, e aqui, no céu ou no inferno, dizem que tudo acaba em pizza! hehehehe
Ai que medo!
ResponderExcluirHehehe.
ResponderExcluirEu preferi falar só o lado dos pecadores nesse post, porque assim como na Divina Comédia de Dante, a parte mais interessante dessas histórias é sempre o lado ruim e difícil, ou seja o Inferno. Fico feliz que tenham gostado.
Ual heim Red? Oo
ResponderExcluirBom, pelo meu humilde conhecimento ._. vai um complemento na parte da minha descendencia xD
sei q no Japão (nao sei especificamente de qual seita ou se há mesmo alguma seita ou religião) as pessoas acreditam que após a morte, o cara é julgado por Emma Daiyo (sim aquele do Yuyu Hakusho)... teoricamente as pessoas precisam atravessar o Sanzu no Gawa, um rio loooongo pra dedéu,(talvez algo q possa se igualar a muralha da China nos dias de hj ou até maior) para encontrar com Emma Daiyo e assim seria feito seu julgamento. Há também assim como vc citou, o Yomi.(que também aparece no Yuyu) Mas acredito que ele faça parte das "trevas" (ou algo como deus da morte/inferno) e nao como um julgador.
Agora qnto ao Ragnarok, acredito q isso seja uma cultura Coreana. (não por causa do jogo, mas pelo proprio nome)
Agora em relação ao budismo posso tentar explicar alguma coisa mais concreta.
A morte significa um "tempo de descanso" ou "recarregar as energias". O julgamento não é realizado após a morte, mas sim em vida. Isso conta na Lei de Causa e Efeito (o q se planta, se colhe) Ou seja, mesmo que as pessoas partam, elas levam consigo o 'carma'(ou as 'causas' acumuladas que fez durante toda a existencia. Boas ou ruins) e os 'efeitos' manifestam-se em vida.
Dependendo de suas causas realizadas, as pessoas que partiram tem ou nao a boa sorte de renascer como seres humanos, ou podem também renascer como outras formas de vida. (animais, plantas, etc)
num geral é isso. Mas há explanações mais profundas com relação vida/ morte xD
espero ter acrescentado algo neste seu post espetaculoso ;)
abraços! o/
ah soh esqueci de dizer tbm pra concluir....
ResponderExcluirEntao na verdade não há alguem que irá te julgar. Vc é responsavel por todos os seus atos, ou seja. Vc eh o proprio julgador. xD
Entao, teoricamente nao adianta reclamar de alguma situação, culpando alguem, pq isto eh a manifestação do carma ( ou o efeito da causa q fez no passado)
Haru, obrigado por comentar.
ResponderExcluirQuanto aos aspectos da Religião Shinto, eu não conhecia essa parte do "paraiso". Na realidade em nenhum deles. Eu me ative mais a contar sobre os infernos. Por isso o Yomi e o Niraya no Budismo.
Quanto ao Ragnarok, é mitologia nórdica mesmo Haru. Ragnarok é o fim do mundo segundo a mitologia nórdica. Ele vai começar quando o lobo gigante Fenrir se libertar das correntes mágicas que o prendem e abocanhar um pedaço do Sol. Então os monstros e gigantes, liderados pelo deus Embusteiro Loki, vão atacar o Valhala (morada dos Deuses) e nesse enfrentamento, todos vão morrer, deuses, homens, gigantes e a Yggdrasil, a arvore da vida que sustenta o céu. Só sobrarão um homem e uma mulher que se esconderão nas raizes da árvore e vão repovoar o mundo.
O jogo, que você se refere é inspirado num quadrinho coreano, que foi inspirado na mitologia nórdica. ;)
ahmmm olha soh como eu sou ignorante kkkkkkkk xDD
ResponderExcluirAh, finalmente algo do que sai algo a mais. Ahahah.
ResponderExcluirGostei muito do post e, por razões óbvias, foi meu post preferido até o momento, por lidar com a parte do inferno. Que na verdade é o meu interesse primordial na mitologia.
Só gostaria de fazer um adendo, falando do Yomi e da cultura japonesa - duas coisas que gosto bastante. Yomi não é exatamente uma "pessoa" mas sim um lugar. É a palavra japonesa para submundo e de acordo com a mitologia xinto é aquele lugar que os mortos vão para apodrecer eternamente. Assim o Yomi pode ser comparado com o Hades e o Inferno.
Algo interessante também é a maneira como as pessoas mais ouvem falar no Yomi: Izanagi (a primeira mulher) vai pra lá em uma lenda - ela então, morre - e o Izanami (primeiro homem) vai até lá pra salvá-la, mas não consegue. Na volta ele lava seu rosto, e desta lavagem é que surgem os três maiores deuses do Japão: Amaterasu, Susanoo e Tsukuyomi.
Yomi assim é governado, na verdade, pela Izanami. O Yomi do Yu Yu então não é o Yomi em si, e acredito que seja na verdade mais associado ao Tsukuyomi, o deus da lua, embora eu não ache que tenha muito a ver também. O Makai (o inferno do Yu Yu) seria mais associado ao Yomi, mas aí muita coisa já foi misturada no anime, incluindo coisas do budismo.
Um bom exemplo do Yomi, que é também associada às trevas e a perdição, é o Yomi que aparece no jogo Okami: Ele é o último obstáculo da Amaterasu, uma forma mecânica (contra a natureza) que representa tudo o que Amaterasu não é, ou seja, o mal e as trevas, justamente.
Parabéns pelo post!