Meu amigos sabem, eu não sou fã de futebol.
Nunca fui. Na verdade eu padeci, em minha infância e adolescência, do mal de ser um verdadeiro perna de pau. Sempre fui o último a ser escolhido na hora de tirar o time. E sempre percebi o descontentamento de meus amigos ao me ter jogando no time deles.
Por essas e outras esse vírus patriótico que afeta os brasileiros a cada quatro anos não costuma me atingir. De qualquer maneira, não poderia deixar passar a oportunidade de aproveitar a interessante mistura desse caldeirão de culturas que é a Copa do Mundo.
E como não poderia deixar de ser, por essa copa já ser especial só pelo lugar em que está ocorrendo, resolvi dedicar essa quinta postagem a cultura da África do Sul, essa terra tão cheia de contrastes e peculiaridades.
As árvores somos...
Todos, que estiveram na escola nos últimos 60 anos, provavelmente já ouviram aquela velha historinha manjada de que o homem veio do macaco e que esse macaco habitava a África. Portanto, o homem é Africano. Bom, vou começar desmentindo essa idéia estapafúrdia.
COMO ASSIM!?
Em primeiro lugar, não viemos de macaco nenhum. O que entendemos por macacos (chipanzés, gorilas, orangotangos, macacos pregos e micos) são parentes nossos, mas não nossos antepassados. Portanto, todos nós, homens e macacos viemos de um ancestral comum, que em algum lugar lá a milhões de anos atrás por algum motivo que ainda não descobrimos, mas que certamente foi alguma catástrofe climática que nosso terno planetinha assassino resolveu provocar, se separou em diferentes famílias de primatas que daria origem a toda essa família de simpáticos seres sociais da qual nós e eles fazemos parte.
Ok, mas o que isso tem a ver com Copa? África do Sul? Bom, os mais antigos sítios arqueológicos do mundo estão lá. Foram encontrados alguns australopitecus (Essa simpática figura ai do lado), indícios de que nossos ancestrais já vagavam por grande parte do sul do continente.
Levaria cerca de 1.000.000 (um milhão de anos) do surgimento do primeiro primata da linhagem evolutiva do gênero Homo (Quando nossos ancestrais se separaram dos ancestrais do macaco) até o surgimento de nossa espécie, o Homo sapiens sapiens. Mas claro, isso para quem acredita no senhor Darwin, o que obviamente, é meu caso =).
Depois que nossos ancestrais começaram a ficar mais altos e independentes, eles se espalharam pelo mundo. Foram parar em tudo que é canto. Os que ficaram na mãe África foram se adaptando as condições climáticas que o lugar os impunha. Aos que ficaram nas regiões abaixo do Saara, e portanto sem contato intenso com aqueles que habitavam os continente vizinhos (Europa e Ásia) acabaram por desenvolver uma pele negra, adaptada ao calor e as condições do Sol na região. Mas esse isolamento não foi de maneira nenhuma por tempo suficiente para que uma nova espécie de homem se desenvolvesse. Tão pouco uma nova raça. São apenas pequenas variações. Mas que no futuro farão toda a diferença entre eles e os outros.
Uma pedaço de chão disputado a tapas!
A região que hoje conhecemos por África do Sul sempre esteve sujeita a invasões e conquistas desde que o homem é homem. Contudo, os povos que a habitavam normalmente se viam subjugados por outros povos com características culturais e física semelhantes a eles.
Antes que os inquietos Europeus sonhassem com a existência da região, o lugar era a terra dos falantes da lingua Khoi-San (Sendo Khoi, um grupo étnico e San outro, mas que falavam línguas muito semelhantes, como, guardadas as devidas proporções um espanhol e um português). Os Khoisan são fisicamente diferentes dos futuros invasores. Eles possuem corpos mais delgados e pele mais clara. Seu modo de vida era nômade, não tinham o habito de criar animais de rebanho e viviam basicamente como caçadores e coletores nômades.
Mas eis que do norte, mais precisamente do que hoje são as regiões do centro da África, na região do Rio Niger, surgem os invasores. Eles são diferentes. São mais robustos, mais escuros. Eles sabem plantar a própria comida, eles sabem adestrar animais para comer depois e o mais importante. Eles tem armas de ferro. Os Bantu, originários do que hoje seria o Camarões e a Nigéria se espalharam por todo o centro e o sul da África numa longa e sucessiva onda de migrações, que provavelmente teve início com o advento da agricultura, por volta de 10000 a 6000 a.C. Conforme atingiam regiões de solo e clima mais propensos à agricultura, como o entorno do Rio Congo e dos grandes lagos africanos, essas populações Bantu cresciam exponencialmente a ponto de fundarem grandes aglomerados populacionais e em alguns casos, grandes civilizações, como a cidade conhecida como Grande Zimbabwe, capital do Grande Reino do Zimbabwe, que existiu por volta de 1250 a 1500 d.C. E cujas ruínas, os colonizadores europeus atribuíram a legiões perdidas de Roma. Esses europeus, não podiam aceitar a idéia de que um deles não estivesse metido em alguma coisa grande. De certo, quando Deus criou o Éden, deve ter pedido conselhos a um Europeu para colocar uma tal árvore maldita no centro do lugar.
A riqueza do Grande Reino do Zimbabwe vinha do comércio, de ouro, de marfim e principalmente de escravos capturados entre os povos da redondeza e vendidos aos árabes na costa leste ou aos europeus, na costa nordeste da África. A queda do grande reino ainda é uma incógnita, mas acredita-se que tenha sido por conta de esgotamento das riquezas que o sustentavam.
Isso forçou os Bantu a migrar novamente. Dessa vez mais para o sul. Eis que eles chegaram a região que seria mais tarde batizada de África do Sul. Expulsaram logo os Khoisan que viviam ali e se instalaram formando dois grandes grupos étnicos: os Xhosa e os Zulu.
Isso ocorreria por volta do século XVI. O que significa que os Europeus já estavam a tempos se lançando ao oceano na busca alucinada pelo caminho sul até as Índias Orientais. Já tinha topado com a América e já conheciam o sul do continente africano. Não que se aventurassem muito por lá, afinal eles morriam de medo do continente. Mas a doença que eles carregavam no peito e que só poderia ser curada pelo ouro era mais forte do que qualquer medo que pudessem ter. O portuga Bartolomeu Dias foi o primeiro a cruzar o Cabo das Tormentas, o ponto mais austral da África. Diz a lenda que esse lugar era tão temido pelos navegadores que só os loucos ou os suicidas tentavam atravessá-lo.
Diz-se também que ele era habitado por um navio fantasma, um navegador aventureiro que se atreveu a desafiá-lo e que pagara um preço alto, a vida e a alma de sua tripulação. O nome do navio dele é Flying Dutchman (O Holândes Voador), figurinha carimbada nas histórias de pirata dos séculos XV ao XVIII, e recentemente do século XXI, nos dois últimos filmes da trilogia Piratas do Caribe, embora o capitão do Dutchman original não fosse retratado como meio cetáceo, meio homem e o nome dele não era Davy Jones, mas Van der Decken. A sina do Dutchman é vagar pelo oceano sem nunca voltar para casa até o dia do Juízo Final.
De qualquer modo os portugueses descobriram um jeito de enganar o Demo, cruzaram o Cabo das Tormentas e como que por mágica resolveram rebatizar o lugar para Cabo da Boa Esperança. Camões contaria essa história depois e imortalizar esses navegadores aventureiros na sua obra prima.
Ok, legal, mas qual a importância disso para a Copa na África? Bom acontece que enquanto os Bantu se assentavam na terra recém conquistada, os Europeus resolveram fazer o mesmo. Os que fizeram primeiro foram os Holandeses. Montaram um posto avançado na região, para parada dos Navios da Companhia Holandesa das Índias Orientais (Chama-se de Índias, no plural, pois o que hoje conhecemos como Índia, não era um único país, mas vários, que os Europeus preferiam chamar de Índias ao invés de seus próprios e complicados nomes originais). Basicamente o lugar servia de porto e principalmente de fornecedor de escravos para a América. Os primeiros a perder a terra nessa história toda foram os Xhosa. Alguns holandeses protestantes, fugindo da perseguição do Rei Mundo (Felipe II da Espanha) acharam legal ir morar no extremo sul do continente africano, afinal não tinha ninguém morando lá, só um bando de negros Xhosa. Eles enxotaram os Xhosa para o interior e fundaram várias cidades coloniais onde a vida ia dura e monótona, até que os britânicos resolveram se instalar ali também e os dois grupos de Afrikaaners, como se chamavam aqueles brancos nascidos na região começaram a se estranhar. Começaram então a guerrear os Boers (Afrikaaners de origens variadas a maioria holandesa) e os descendentes de britânicos que se instalaram ali. E quem saiu perdendo com essa historia? Claro que foram os Bantus.
Acontece que...
No meio do caminho tinha um Zulu... Tinha um Zulu no meio do caminho.
Pois é. Os Zulus, povo guerreiro, não gostava nada daquela história de homens brancos tomarem as terras deles. E como eram maioria (e uma maioria violenta diga-se de passagem) os brancos morriam de medo de se meter a besta com eles.
O mais importante Rei Zulu é Shaka. A história dele é complicada. Filho criado com a mãe, ascendeu ao trono em condições contraditórias, mas com um senso de liderança nato, conduziu seu povo ao desenvolvimento, fundou uma religião organizada e derrotou os britânicos numa das mais fantásticas batalhas do século XIX. Usando facas e escudos contra mosquetes e rifles, e claro uma estratégia superior, Shaka mostrou aos brancos que não seria só por causa das armas que eles dominariam seu povo. Contudo, a história costuma ser contundente. Após um grande rei/rainha, seguem-se governantes medíocres ou indecisos que levam seu povo a ruína. Com os Zulus não foi diferente. Shaka manteve os brancos no gelo por um tempo.
Mas, alguém ai já ouviu alguma vez na história, de um descendente de europeu deixar de fazer o que quer porque tem um nativo no meio? Os Boers mandaram uma delegação para fazer paz com o líder Zulu (Três gerações após Shaka) e pedir ajuda dele para expulsar os britânicos dali. O que fez o chefe Zulu? Talvez ele tivesse ouvido histórias das Américas, ou Montezuma foi falar com o Laibon (xamã africano) deles para não confiar naquelas histórias de homem branco. Seja como for o líder Zulu agiu de maneira surpreendente. Matou toda a delegação e mandou seus soldados fazerem a geral nos assentamentos Boers. Não perdoaram nem as crianças. Só sobrou uma italiana, que montou num cavalo e saiu em disparada para avisar o resto dos homens brancos o que estava por vir. Eles se armaram. Esperaram os Zulus. Para azar deles, começou chover, as armas de fogo não funcionariam. Já estavam resignados quanto a morte. Mas cadê esses Zulus? O dia veio, a pólvora secou e os Zulus apareceram para serem massacrados pelas armas européias. Explicação? Disseram os Zulus que um monstro os impediu de seguir em frente, ficou circulando o acampamento do céu (Disco Voador?! Nãããão!). Depois disseram que alguns de seus destacamentos se perderam retardando o ataque. Seja lá o que for perderam a chance de matar uma porrada de Boers, o que custaria muito caro para as gerações futuras de seu povo. O rei Zulu foi morto pelos próprios súditos e a paz foi celebrada com os Boers... por enquanto.
Vão-se os Zulus, ficam-se os Xhosas...
A briga entre Boers e britânicos era pelo controle das minas de ouro e diamantes, que ainda existem em abundância na África do Sul. E ela se prolongaria por mais de um século, até que no principio do século XX, os lados rivais se unissem para formar a União Sul Africana. E ai começaram de fato os problemas para as populações negras. O governo central resolveu adotar a política segregacionista que já existia nos estados independentes fundados pelos Boers. O famigerado Apartheid. A segregação étnica da África do Sul foi pior do que se pode imaginar. Não era só uma questão de separação entre Brancos e Negros, mas sim uma ação sistemática do estado para por fim a qualquer pretensão dessas populações negras a ter o mínimo de dignidade humana. O regime classificava em três castas, a população, Brancas (Boers e anglófonos), Coloured (Os descendentes dos Khoisan) e Indianos (Descendentes dos Indianos trazidos das Índias durante o domínio Britânico); e por fim os Negros (A grande maioria). Para cada uma dessas "castas" havia leis específicas, sendo a maior parte favorecendo a minoria branca. Para os negros não havia qualquer lei a favor. Eles não eram considerados cidadãos, não tinham direito a saúde, educação ou qualquer outro serviço fornecido pelo Estado. Eram parias, estrangeiros em sua própria terra, personas non grata. Consideremos que o apartheid foi instituído em 1948 e só acabou em 1994. O tempo de uma vida para toda uma população. Gerações perdidas nesse violento e ignóbil regime, que só não pode ser comparado ao Nazismo, porque comparada a ideologia nazista só o Inferno cristão. Mas o Apartheid certamente figurará entre as piores atrocidades que o homem pode cometer contra um semelhante. Que vergonha para seus ancestrais australopitecus.
Contudo, existe luz nessa treva horrenda. A luz de um homem, que lutou pela liberdade, e que paradoxo, de dentro de uma cela onde amargou duas décadas e meia. Que não pode ver seus filhos crescerem, que não pode estar ao lado de sua mulher. Que entrou jovem e saiu velho. E que mesmo assim não se tornou amargo ou insensível. Esse Xhosa, bastião de tudo o que deve ser valorizado na postura de um líder contemporâneo e que é sem dúvida nenhuma o símbolo máximo dessa virada de mesa e de página na história da África do Sul. Mandela não só é um ícone para a África do Sul. Ele é e será lembrado eternamente como o bastião da liberdade para toda a humanidade. Um homem, não um santo ou um deus, que literalmente sacrificou sua vida inteira para que os sul africanos pudessem enfim amar uns aos outros como a si mesmos.
A importância desse evento para a África do Sul é muito mais do que mostrar que o país mudou. Muito mais do que mostrar que o "terceiro mundo" já não é aquela boca do inferno de antigamente. É um símbolo e uma demonstração para o mundo de que não existe, nunca existiu e nem existirá distinção entre seres humanos que justifique a dominação de uns pelos outros e de que nem mesmo ódios ancestrais, podem mudar isso.
Que os exércitos da paz entrem em campo. Defendam seus pavilhões e brinquem de ir a guerra. Invadindo o campo adversário e roubando a glória do oponente. Essa é a guerra boa de se ver.
Viva a diversidade de culturas!
Viva a África do Sul!
aprendendo sempre ;)
ResponderExcluiruma sugestão de tema
outro dia estava vendo um documentario no canal jp NHK sobre "Senote". Uma caverna subterrânea imergida numa água incrivelmente cristalina, e os Maias acreditavam que ali viviam os Deuses da chuva. (Mas soh foi dito isso pq o foco do documentário foi de como surgiu esses senotes e tal) Já q vc eh um amante da história, seria legal explorar a cultura Maia q a proposito eh fantastica =)
Hehehe, Haru, pedir para falar sobre América pré colombiana é covardia. Obrigado pela sugestão. Vou abordar os Maias nos próximos posts.
ResponderExcluirAe, finalmente tomei vergonha na cara e apareci por aqui. Primeiro parabens pelo Blog, ele está realmente fantástico. Não sabia que a Africa do Sul tinha toda essa história, bastante interessante, ainda mais em saber que tinha gente louca o suficiente pra lutar contra armas de fogo no muque, mesmo que seja sec. XIX, hehe. Mas, realmente o apartheid foi triste, e pensar que o setimo anão tecnico de nossa seleção deu aquela entrevista vergonhosa.
ResponderExcluirEba!! Maias ! *_*
ResponderExcluir'DEUS FEZ O HOMEM, DEUS ABRIU O MAR VERMELHO E O POVO HEBREU PASSOU( A PRÓPRIA HISTÓRIA CONFIRMA )
ResponderExcluirE JESUS NÃO AGREDIU, NÃO HUMILHOU, SÓ FEZ O BEM PREGOU A VERDADE DE UM REINO ESPIRITUAL, E FOI MORTO CRUELMENTE EM UMA CRUZ!
SERÁ QUE TUDO ISSO OCORREU POR SERMOS APENAS HOMENS VINDO DO AR OU DA AGUA???
NÃO, NÃO TEMOS UM DEUS, UM DEUS ESPIRITUAL QUE IRA MUITO EM BREVE SE APRESNTAR AO MUNDO E TENHO CERTEZA QUE MUITOS QUE SEMPRE O BLASFEMARAM NAQUELE DIA , HORA E MOMENTO DIRÃO:" MEU DEUS OQUÊ EU FIZ AQUI NA TERRA PARA MERECER SEU PERDÃO?"